segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

3:43


Estava exasperada. Esticou-se sobre os lençóis, estendeu os braços e alcançou o travesseiro. Juntou as pestanas em uma pressão fervorosa enquanto repetia mentalmente ‘Perspectiva! Preciso de perspectiva!’ Envolveu a almofada retangular entre seus pequenos braços e, como quem aperta algo pra que se torne parte, afundou a almofada retangular contra seu miúdo tórax. Respirou fundo. Uma, duas, três vezes. É controle, autocontrole. ‘Precisar de algo sem saber o que é, é, definitivamente o fim da picada’. E ao concluir a frase em um movimentar de lábios, se encolheu ainda mais em seu espaçoso leito floral. Pequeninas margaridas dispostas aleatoriamente sobre o forro. Amarelas e brancas. Floral. Aquela forma fetal, o aconchego que tentava proporcionar a sua mente, era inexistente. Encolhia-se, se retorcia, rolava, cobria a face, largava a almofada, se abraçava, mudava de lado e, em um cansaço duplo, dormiu às 3:43 da madrugada.
Pobre garota.
Mal sabia ela que era tudo uma questão de perspectiva.

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